27 de março de 2019

O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) combate veementemente a educação a distância para os cursos de Medicina Veterinária, pois considera que os treinamentos práticos presenciais e diurnos são determinantes para a formação dos futuros profissionais. O Conselho preza tanto pela formação dos estudantes que, em 2016, editou resolução específica (nº 1.137/2016) determinando os cenários fundamentais de aprendizagem nos hospitais, clínicas e fazendas de ensino dentro dos cursos de Medicina Veterinária.

De acordo com o presidente da Comissão Nacional de Educação em Medicina Veterinária (CNEMV) do CFMV, Rafael Gianella Mondadori, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL/RS), estudos científicos comprovam que a aprendizagem ativa é mais proveitosa. “Para retenção do conhecimento, o aprender fazendo é bem mais eficaz do que uma leitura, um audiovisual ou até mesmo uma demonstração”, afirma. Para desenvolver as competências técnicas, o professor considera imprescindível, nas diversas áreas da profissão, o contato direto do estudante com o serviço veterinário.

Por isso, a resolução do CFMV demanda que hospitais, clínicas veterinárias e fazendas de ensino sejam laboratórios didáticos especializados, integrados ao projeto pedagógico do curso, visando assegurar a formação teórico-prática do médico-veterinário, inclusive para pesquisa e extensão. As estruturas devem ter professores qualificados, instalações adequadas e equipamentos suficientes para ensinar sobre clínica, cirurgia, reprodução animal, patologia, diagnóstico por imagem e laboratório clínico, bem como sobre produção animal nas diferentes espécies de interesse. Além disso, os hospitais e clínicas de ensino devem prover atividades sob responsabilidade técnica e supervisão permanente de um docente médico-veterinário.

O aprendizado em serviço é uma atividade tão relevante para a formação que a resolução estabelece um referencial mínimo de atendimentos para cada 80 vagas anuais autorizadas para estudantes. O documento determina que os hospitais e/ou clínicas próprios dos cursos atendam, anualmente, no mínimo 750 casos de clínica de pequenos animais; 180 casos de clínica cirúrgica de pequenos animais; 150 casos de clínica médica e cirúrgica de grandes animais; 80 casos de clínica médica e cirúrgica de animais selvagens e de companhia não convencionais; 330 procedimentos anestésicos inalatórios ou intravenosos; 2.300 exames de laboratório clínico; 400 exames de diagnóstico por imagem; 150 casos de patologia (necropsia); e 120 casos de biotécnicas e clínica da reprodução animal.

Mondadori adverte que, sem o acompanhamento do serviço veterinário, a formação do futuro profissional estará impactada. “A reeducação frente aos casos práticos só acontece quando o estudante vivencia o dia a dia dos serviços”.

A fazenda de ensino ainda tem o objetivo de proporcionar ao aluno uma visão integrada e sistêmica das cadeias produtivas, tendo como fundamento a sustentabilidade socioeconômica e ambiental. Nesse caso, a norma permite que as práticas sejam em estrutura conveniada, desde que utilizem tecnologias modernas de produção, abrangendo todas as etapas de produção nas áreas essenciais de formação do profissional, como bovinocultura de corte e leite; avicultura; suinocultura; equideocultura; ovino/caprinocultura; e piscicultura.

O professor alerta que, para além da perspectiva técnica e prática, “só em contato com outras pessoas será possível ao aluno desenvolver as competências humanísticas, como a capacidade de gestão e de tomada de decisão, a comunicação, a liderança e a administração e o gerenciamento de carreira e de riscos”.

Estudante, presente!

 

Raul Henrique da Silva está no 10º e último semestre de Medicina Veterinária da UFPEL/RS e revela que foi justamente durante as aulas práticas que escolheu a área de reprodução em bovinos para seguir carreira. Segundo o estudante, a área de reprodução requer muita prática e foi durante os treinamentos que se deparou com o primeiro desafio de aprendizagem. “Na teoria, era muito fácil fazer um exame ultrassonográfico, um diagnóstico de gestação, ou uma palpação, mas logo na primeira prática na universidade percebi que não estava preparado e que ainda me faltava muito treinamento”, conta.

Desde o quinto semestre, Raul tem aulas práticas na fazenda escola e no hospital de clínicas veterinárias da UFPEL. Para ele, o contato direto com o docente foi imprescindível para esclarecer dúvidas. “Na hora do treinamento surgiam os questionamentos, aí o professor explicava de outra maneira, tentava outra técnica, usava outro exemplo, uma intervenção que só era viável cara a cara, o que não é possível quando se está assistindo um vídeo”, exemplifica.

Além do treinamento universitário, o futuro médico-veterinário buscou estágios profissionais extracurriculares desde o 1º semestre para complementar sua formação e se aprimorar tecnicamente. Começou no laboratório de inspeção de produtos de origem animal da universidade, dando assistência aos pequenos produtores da região sobre manejo e boas práticas na ordenha para combater mastite. No sexto semestre, partiu para o treinamento no laboratório de virologia e imunologia da UFPEL e, no sétimo período, foi para o núcleo de pesquisa, ensino e extensão em pecuária, trabalhando com clínica e reprodução de bovinos.

Agora, no último semestre do curso de Medicina Veterinária, Raul cumpre o estágio curricular obrigatório de 450 horas e está trabalhando em uma fazenda especializada em leite, no município de Passos, no sul de Minas Gerais. “É importante para quem vai trabalhar com grandes animais, como é o meu caso, ter a vivência de como funciona o manejo e a reprodução em uma fazenda leiteira, porque as técnicas são diferentes e essa experiência me ajuda a complementar o conhecimento sobre bovinos”.

A segunda parte do estágio obrigatório Raul cumprirá numa empresa de genética, em Brasília, voltada para o corte de bovinos, onde será efetivado como médico-veterinário após a conclusão do curso. “Como é uma empresa focada em atender produtores de Nelore e Guzerá, terei a oportunidade de aprender as diferenças de manejo das produções de corte e leite e conhecer duas realidades distintas, o que considero bem importante para a minha formação”. Ao final dos estágios, Raul terá de produzir um relatório técnico que será defendido perante uma banca na universidade.

Mesmo com toda a estrutura da faculdade, Raul acredita que é fundamental buscar experiências fora do ambiente de ensino. “Lidar com a realidade do médico-veterinário mostra que precisamos treinar cada vez mais, pois estamos lidando com vidas. Vai muito além de ser um bom profissional, devemos ser defensores do bem-estar animal, treinar cada vez mais para errar cada vez menos”, opina.

Assessoria de Comunicação do CFMV

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