Nádia Rossi
Na quinta matéria da série comemorativa ao mês do médico-veterinários, o destaque é a médica-veterinária Nádia Rossi.
Natural de São Paulo, a profissional fez a graduação na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
Com visão macro do exercício da Medicina Veterinária, ela se dedica ao ensino como professora na Universidade Federal da Bahia (Ufba), à pesquisa e é membro da Comissão Estadual de Bem Estar Animal, Ética e Bioética (COMEEBB) do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado da Bahia (CRMV/BA).
Como tudo começou:
Eu sempre quis ser médica-veterinária desde criança, parece que nasci já médica-veterinária, [mas] não tem ninguém na minha família [que seja médico-veterinário], na verdade não tem ninguém nem na área da saúde.
Sou graduada pela Universidade Federal de Rio de Janeiro (UFRJ), tenho muitas boas memórias, é a uma universidade… que eu amo de paixão, fiz muitos amigos, morei em Seropédica, que é baixada fluminense, então é praticamente uma cidade universitária. Eu morei lá durante os cinco anos de graduação e no mestrado e no doutorado também e eu tenho muitas boas lembranças da Universidade.
Quando eu entrei, eu não pensava em magistério, pensava em clínica, principalmente clínica de felinos, que eu [sempre] gostei muito, só que no meu terceiro período, cursei uma disciplina, que foi Virologia Veterinária e me encantei.
No semestre seguinte, eu já entrei no laboratório para fazer monitoria, depois fui bolsista de iniciação científica e foi nesse laboratório de Virologia e Imunologia Veterinária (era conjunto) que eu comecei a despertar para o Magistério e para a Pesquisa e foi aí o ponta-pé para eu querer exercer minha vida de docente.
Docência:
Eu comecei a dar aulas na pós-graduação, como um estágio a docente, eu tinha algumas turmas específicas e também fui bolsista Reuni, então tinha de me dedicar oito horas semanais à graduação.
Logo eu tive uma oportunidade de dar aula para uma pós-graduação Latu Sensu que foi em uma universidade privada no Rio de Janeiro e uma coisa puxou a outra, depois eu lecionei também mais duas pós-graduações stricto sensu, uma era até na UFRJ a outra na Unigranrio, e eu passei em um processo seletivo de uma universidade particular (Universidade Severino Sombra, na cidade de Vassouras), fique cinco anos lá, fui coordenadora do curso e também lecionei (por um ano) no município ao lado, Valença, na Fundação Dom André Arcoverde.
O meu “carro-chefe” sempre foi Microbiologia Veterinária e Doenças Infecciosas, então lecionei em doenças infecciosas, imunologia, microbiologia, veterinária e microbiologia geral, fui professora de clínica, de processos patológicos na enfermagem, comecei dando aula para Veterinária, depois dei aula para Farmácia, para Biomedicina e para Enfermagem. Na Enfermagem eu fiquei nas duas faculdades.
(Mesa Redonda do Primeiro Simpósio de Infectologia Veterinária. Nádia Rossi é a segunda da esquerda para a direita)
EAD
Eu não sou nem um pouco a favor o Ensino a Distância (EaD) na área de saúde, médica-veterinária, acho que o Ministério da Educação antigamente exigia 20% das disciplinas, algumas realmente até daria para fazer a distância, mas numa percentagem que a gente já achava que era muita.
Alunos
Vários alunos me trazem boas memórias.
Essas universidades [citadas acima] eram no interior, a gente tinha uma proximidade muito grande. Nós éramos muito amigos dos alunos, apesar de ter esse respeito como docente, a maioria dos alunos sabia separar isso. Então tenho várias boas lembranças, a gente acompanha pelas redes sociais como esses alunos estão indo na carreira. Eu tenho uma aluna que passou muita necessidade numa das universidades privadas, a gente até deu ajuda financeira para ela terminar, ela tinha muitos problemas familiares e hoje ela está fazendo o doutorado dela, ela já leciona também em uma universidade, mora sozinha. É uma história de sucesso que a gente gosta de acompanhar.
Reconhecimento dos pares
Eu tenho meu reconhecimento, tanto que tive indicação para cargo de chefia, fui coordenadora de curso, hoje por exemplo, sou conselheira da Comissão Acadêmica de Ensino, então represento minha unidade, que é Medicina Veterinária e Zootecnia [da Ufba], acho que em relação a isso eu não tenho o que reclamar.
Vocação e Bem Estar Animal
Como eu falei, eu sempre amei Medicina Veterinária, nasci praticamente querendo ser médica veterinária e isso tem tudo a ver com Bem-Estar Animal. Quando você ama os animais, você quer proteger para que nada de mal aconteça.
Eu acho que existe um apelo, uma preocupação cada vez maior, a gente vê isso com relação à posse responsável, por exemplo, animais de companhia, eles são introduzidos na família como se fossem membros. As pessoas realmente se preocupam e até no extremo, que seria o abate. Hoje tem o abate humanitário, tem o horário do dia para o animal ser transportado em uma rodovia, tem o período de espera para abate, o animal fica em jejum, porque isso tem que acontecer em restrição, mas em um período mínimo de tempo possível. Estou dando exemplo de extremos, mas existe realmente uma preocupação maior.
As pessoas denunciam mais os maus-tratos e isso gera uma polêmica muito grande.
Crianças e animais de companhia
Acredito [que os animais] sejam sencientes, sim. Tem animal que só fala faltar […] ele percebe tudo em volta. Ele mesmo toma atitudes.
Não estou falando de animais adestrados, a gente convive mais com animais de companhia, a gente percebe isso.
Animais de produção, o pessoal fala que [parece] já sabe que vai ser abatido, o animal de feira de adoção, parece que ele sabe que vai ser adotado, parece que ele escolhe aquele tutor.
E ai, começar a explicar isso para uma criança de dois, quatro anos, eu tenho filho de três anos [Pedro], não é uma coisa que seja fácil, mas eu acho que meu filho percebe isso, o jeito que o gato, o cachorro olham para ele, ele sabe que tem carinho envolvido. O gato quer dormir no pé dele, o cachorro quer ficar cochilando com ele no colchão também.
De uma forma geral, a gente vê um envolvimento, a gente vê cada vez os pais liberando um pouco essa relação entre os animais e as crianças. Antigamente você não podia tocar em um cachorro, [havia a noção que] o cachorro traz doença. Isso daí eu não vejo muito [hoje].
Eu vejo alguns pais recriminando [a criança] às vezes na rua [quando] o cachorro é errante, eles têm medo, por exemplo, da raiva, mas de uma forma geral não existe mais essa recriminação.
A criança não tem essa maldade, ela vai tentar socializar com o animal mesmo não sabendo o temperamento dele. Parece que os pais hoje eles isso deixam correr um pouquinho mais solto.
Maior Rigor
Eu entrei na Comissão de Bem-Estar Animal ( Comissão Estadual de Bem Estar Animal, Ética e Bioética, COMEEBB, do CRMV/BA, foto abaixo), porque eu acho que posso contribuir de alguma forma para a Ética, Bioética e o Bem-Estar Animal, é algo que eu gosto, eu me sinto útil, mas existem realmente desafios.
E muitos desafios estão relacionados às leis, a ponto da gente ficar limitado nesta ajuda. Muitas vezes se apura uma denúncia e, por lei, a pessoa que cometeu maus-tratos não pode ser penalizada.
Mitas vezes você sabe que tem uma situação ali que se tornou crônica, ela já é permanente, [de] muitos anos, e é difícil, [por isso] eu acho que a lei tem que ser mais rigorosa. Tem melhorado muito, mas eu acho que cada vez tem que ser mais rigoroso.
Ascom CRMV/BA, 16 de setembro de 2019
É realmente muito interessante esse TEMA, Bem Estar Animal, como também, necessário à pesquisa e procedimentos em defesa desses animais, no entanto eu pergunto, essa preocupação existe também para grandes animais, principalmente, de campo? Sou curioso nesse aspecto.
Prezado senhor Alberto Bandeira,
consultamos a Dra. Nádia Rossi para esclarecer sua dúvida e ela nos explicou sobre os progressos na área, citando exemplos reais:
“Existe esse maior apelo pelo bem-estar de animais de produção que estão a campo. A gente vê por exemplo melhoramento para evitar stress térmico, com sombreamento, ou artificial ou [com] árvores para ter sombreamento natural. A água e a alimentação são à vontade.
O animal que fica confinado, é obvio que é mais estressante, mas tem um cálculo para fazer um pé-direito para ter ventilação, uma contagem de animais para não ter superpopulação. Tem o controle de ectoparasitos porque o animal coça e se estressa, é claro que tem também a visão de produção, pois se o animal se estressa, ele não se alimenta e perde conversão alimentar e às vezes a vaca leiteira para de dar leite.
Não é só o bem-estar animal, tem uma implicância de produção.
Mas as coisas melhoraram muito, por exemplo, transportar animais hoje em dia você tem regras. As aves tem que ser transportadas de madrugada, não pode ter sol (isso quando se fala em abate), depois ficam uma ou duas horas dentro do caminhão para uma adaptação, quando vão para a linha de inspeção tem uma luz azul que é para acalmá-las, antes delas passarem pelo processo de dessensibilização. Até mesmo o abate é humanitário.
No caso de Anemia Infecciosa Equina, o animal positivo tem que ser sacrificado, [mas]é um sacrifício humanitário, com anestesia. Ninguém vai atirar com uma arma de fogo, como era antigamente.
O abate era com uma machadada na cabeça, hoje não, é [com] pistola de insensibilização. Tanto para o animal que está voltado para abate ou para os produtos leiteiros, melhorou muita coisa e o [para] o animal a campo mesmo.
Eu acho que a melhoria maior foi essa preocupação com stress calórico que tem muita relação com doenças.”