Com uma fala tranquila e segura, o jovem médico veterinário Sergio Nascimento Costa descreve como está descobrindo as demandas da população de Cansanção para o Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF.  O programa  foi criado em 2008 para  apoiar a consolidação da Atenção Básica.  A cidade onde trabalha tem   32 mil habitantes e está no semiárido da Bahia, na microrregião de Euclides da Cunha.

Ele relata que se trata de uma experiência recente, pois começou no primeiro dia de novembro de 2017. E é um desafio,  pois  a atuação do médico veterinário no NASF não é muito enfatizada nos cursos de graduação.

O NASF de Cansanção-BA é composto por uma equipe multidisciplinar com profissionais de diferentes áreas: Assistente Social, Fisioterapeuta, Nutricionista, Psicólogo, Fonoaudióloga, Educador físico e recentemente houve a contratação de farmacêutico e do Médico Veterinário Sergio Costa. Estes profissionais atuam de maneira integrada, apoiando as Equipes Saúde da Família (ESF’S) e compartilhando as práticas e saberes em Saúde nos territórios sob responsabilidade destas equipes, através do Apoio Matricial.

Apostando na formação de multiplicadores, 
o projeto leva informações para pessoas de todas idades

Em 1998 o ministério da saúde reconheceu a Medicina Veterinária como profissão da área de saúde, mas foi incorporada ao NASF apenas em 21 de outubro de 2011 pela portaria GM/MS número 2.488, reiterando seu conhecimento sobre doenças e agravos transmitidos por animais e alimentos, diretamente relacionados com a saúde pública.

Apesar de ter sido reconhecida a necessidade há sete anos,  ainda não é frequente a  presença dos médicos veterinários nas equipes do NASF na Bahia,  sendo, portanto,  um espaço de saúde pública ainda carente das habilidades e dos  conhecimentos ligados à Medicina Veterinária.

Para fazer frente aos desafios,  o MV Sérgio Costa passou a pesquisar sozinho tudo que encontrou sobre a atuação do médico veterinário no NASF, e a partir das leituras e da realidade que tem encontrado, vai formulando o plano de trabalho a médio e longo prazos. Trabalhando 20h/semana  ele percorre a  sede e os povoados do município, sempre em contato direto com a população não apenas em visitas domiciliares, mas também ministrando palestras para públicos de tamanho considerável.

A cidade onde trabalha  é a única da  região com profissional médico veterinário ligado ao programa   e sendo assim, não há experiências semelhantes que sirvam de inspiração ou que ele possa trocar experiências. O trabalho vai sendo  feito com o conhecimento científico e a sensibilidade do profissional.

No diagnóstico situacional já foram identificadas várias questões  nas quais  a Medicina Veterinária pode fazer diferença na saúde local:   o médico veterinário  identificou animais soltos nas ruas, causando a preocupação com doenças como raiva e também potencial risco de ataques.  Em sua maioria, os cães tem donos, mas são criados de modo livre, sem qualquer supervisão dos tutores.  As orientações sobre posse responsável  são prestadas insistentemente durante reuniões e conversas privadas.

Em conexão com os ideais da “Saúde única”, já foram identificadas  situações como a necessidade de sempre  orientar sobre o descarte de lixo, principalmente nos distritos onde a coleta obedece a uma tabela semanal.   Outro ponto relativo a limpeza pública que recebeu a atenção do profissional foi o comportamento dos  pescadores que fazem descarte inadequado de carcaça de peixes proveniente do processamento para fazer “filezinho”.  O MV Sérgio Costa também dá orientações quando aos cuidados com “aguadas” como  os moradores da região chamam as fontes e mananciais, sem esquecer ainda de  explicar sobre a conservação e higienização adequadas  dos alimentos. Como pode ser visto na foto acima, ele leva as pessoas ao local do problema, o que torna mais didática a informação prestada.

Estas são ações preventivas em geral. Mas os moradores também recebem informações específicas sobre vetores de doenças, sobre zoonoses, sobre cuidados com a saúde de animais domésticos e dos animais criados para subsistência e até sobre procedimentos de primeiros-socorros em casos de acidentes com animais peçonhentos. Isto só para ficar em uma pequena lista de muitas outras atividades desenvolvidas de acordo a necessidade local. Tudo isso, conta o MV Sergio Costa, “interligando saúde animal, saúde ambiental e saúde humana”.

 


 

Sobre Cansanção:

A cidade está a 354km  de Salvador.

Segundo o PNUD de 2010 tem baixo  índice de desenvolvimento humano, IDH: 0,557

O nome da cidade é derivado de uma planta comum no semiárido baiano que dissemina propriedades urticantes quando é tocada.

 

Ascom CRMV/BA, 23 de fevereiro de 2018

Fotos cedidas pelo MV Sérgio Costa

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *