30 de maio de 2019
O profissional de destaque dessa história é o zootecnista e doutor em Genética José Ribamar Felipe Marques. Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) há mais de 40 anos, atualmente Marques coordena o Programa de Melhoramento Genético de Búfalos do Estado do Pará, o Promebull Pará, realizado em convênio com a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca do Pará (Sedap).
O Promebull é um programa voltado para inovação, que envolve Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) e manejo genético. O projeto visa ao macho e à fêmea como reprodutores com valores equitativos. Para isso, a fertilização “in vitro” de embriões (FIV) é a ferramenta e as boas práticas de manejo sustentável servem para embasar o pequeno produtor. “Ele entra no agronegócio do búfalo como protagonista, não como coadjuvante”, diz.
Hoje, o Promebull é um programa que já extrapolou as fronteiras do Pará, mas quando começou, em 2010, era um projeto apenas para a Ilha do Marajó. Desde a década de 1990, Marques trabalha no arquipélago paraense com a conservação de recursos genéticos animais, coordenando as ações do Banco de Germoplasma Animal da Embrapa Amazônia Oriental (Bagam). Foi, inclusive, responsável pela primeira importação da Europa de sêmen das raças Murrah (búfalos indianos que estavam na Bulgária) e Mediterrâneo (da Itália), realizada na década de 1980.
Desde então, Marques utiliza essas linhagens para fazer o melhoramento genético dos búfalos da Ilha, utilizando-se da inseminação artificial como ferramenta de manejo para maior eficiência reprodutiva. Isso vem aumentando a produtividade leiteira do rebanho bubalino marajoara, principal fonte de emprego e renda de pequenos produtores da pecuária familiar da região.
Atuando em 19 propriedades, o Promebull Marajó chegou a 192 crias, com o potencial de dobrar a produção bubalina leiteira. Antes desse trabalho visando ao melhoramento genético, as fêmeas produziam, em média, quatro litros de leite por dia. Com a introdução das linhagens de sêmen da Embrapa Amazônia Oriental, a expectativa é que os melhores animais atinjam uma produção diária de oito a dez litros.
O programa despertou o interesse das Associações Brasileira e Paraense de Criadores de Búfalos, bem como da Sedap, que viraram parceiros do projeto. Com esse reforço, em 2017, o Promebull expandiu-se e passou a ter abrangência estadual, voltado ao melhoramento genético do rebanho de búfalos de todo o Pará, estimado em 520 mil cabeças, segundo o Censo Agro de 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Após acordo firmado recentemente com a Índia, o programa vai permutar sêmen de búfalos indianos e, já no primeiro semestre deste ano deve receber duas mil doses para inseminação. A expectativa é que, em até cinco anos, a produção diária de leite de búfala chegue a 14 litros por cabeça.
Em 2019, o Promebull deixou de ser um programa estadual e ganhou dimensão nacional. Já existe no Amapá e está sendo formatado para implantação no Amazonas e Maranhão. Também há parceiros interessados no Rio Grande do Sul e em outros estados do Nordeste.
Zootecnia social
“Esse programa nasceu numa época em que o governo tinha o lema de aumentar o emprego e a renda do produtor rural, num dos locais de mais baixo IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] do país”, contextualiza Marques. “Com o Promebull, esperamos fixar as famílias à terra, aos seus locais de origem, ao campo, com maior conforto e qualidade e, com isso, permitir que produção de alimentos proporcione vida digna ao produtor familiar”, afirma.
O zootecnista explica que a base do programa é capacitar os membros das famílias para que eles fiquem mais aptos a desenvolver as atividades com excelência, melhorando a qualidade de vida e a realidade das pessoas. Apesar de envolver alta genética e biotecnologias, Marques tem convicção de que a Zootecnia muda o panorama econômico da região.
“A paisagem econômica da região muda com a introdução de artifícios zootécnicos que permitem alterar a realidade social. Temos certeza que a Zootecnia está impactando não só a cadeia produtiva dos búfalos, mas, especialmente, interferindo diretamente no bem-estar e na qualidade de vida dos criadores e produtores”.
Commodities e sustentabilidade
O pesquisador da Embrapa comenta que a carne já é commodity de grande importância para o Brasil e, nesse quesito, está na ponta do comércio e das exportações. “Precisamos melhorar a produção de leite. Não é aceitável que um país com o nosso potencial ainda importe leite do Uruguai e outros países. Não podemos permitir que isso ocorra”, defende.
Hoje, segundo o zootecnista, o Brasil possui uma pecuária leiteira e de corte sustentável, que não derruba mais uma árvore. “As áreas de pastagens estão diminuindo e a produção está aumentando. Os produtos que, até pouco tempo atrás não tinham qualidade, hoje disputam com outros países produtores os melhores e mais exigentes mercados do mundo”, destaca.
Profissional orgulhoso do ofício que exerce, Marques sente-se gratificado por trabalhar na produção sustentável de alimentos, vendo a Zootecnia capaz de suprir a manufatura por proteínas nobres, como carne, leite e seus derivados. “Trabalhamos a segurança alimentar associada ao conforto animal e tendo, por trás de tudo isso, o zootecnista moldando a produção animal cada vez mais sustentável”, comemora.
“O Brasil realmente precisava dessa Zootecnia atuante, que tem aumentado os índices de produtividade não só na bubalinocultura, mas em todas as espécies, dos pequenos aos grandes animais e, ainda, tornando-se protagonista, inclusive no ramo pet”, conclui.
Perfil
José Ribamar Felipe Marques formou-se em Zootecnia pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, em 1974. Escolheu a profissão por vocação e pela influência do mundo agrícola, pois já era formado como técnico agrícola, trajetória da qual tem orgulho.
É mestre em Produção Animal pela Universidade Federal de Minas Gerais (1984) e doutor em Genética pela Universidade Estadual Paulista de Botucatu (1991). Ainda fez pós-doutorado em Genética na Universidade de Córdoba, na Espanha, em 2006, onde, também, fez Especialização em Conservação de Recursos Zoogenéticos.