Na Bahia, são frequentes as denúncias de ações de vacinação feitas de modo precário e fora das especificações legais.  A imunização, que pode salvar a vida do animal, também pode se transformar em dor de cabeça para o tutor, se feita de modo inadequado e no momento errado.

Para orientar os profissionais nas vacinações, o  Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), baixou a Resolução 844/2006 que normatiza a aplicação de medicamentos e vacinas nos animais., entre outros assuntos. Veja o que diz o § 2º do Art. 4º.

É baseado na legislação que o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado da Bahia (CRMV/BA) realiza as ações de fiscalização.

Para conhecer a anatomia  (estrutura  e forma dos corpos),  a histologia (composição dos tecidos vivos) e a imunologia (conhecimento sobre o sistema de reação e defesa do organismo) o profissional de Medicina Veterinária tem disciplinas específicas durante a formação acadêmica. Esse conhecimento permite que o médico veterinário tenha segurança em qual área corporal e quais os instrumentos são adequados para a aplicação dos medicamentos, inclusive, a vacina, afirma o médico veterinário Everton Rusciolleli.

(Foto: Álbum pessoal)

Poder Público

Professor, clínico de pequenos animais e presidente da Comissão Estadual de Saúde Pública (CESP) CRMV/BA, o médico veterinário Eduardo Ungar,  também se preocupa com as denúncias de vacinações irregulares.

(Foto: Álbum pessoal)

Em primeiro lugar, relata Ungar, “apenas o poder público municipal ou estadual tem a prerrogativa legal de realizar uma campanha de vacinação.  A vacinação feita por particulares”, lembra  o médico veterinário, “só pode ser feita em residências ou clínicas veterinárias, por profissional médico veterinário, conforme estabelece a Resolução CFMV 844/2006. Portanto, qualquer  campanha de vacinação, promovida por qualquer cidadão já é ilegal em seu nascedouro”.

Para facilitar o entendimento, ele explica: “alguém pode fazer uma campanha de vacinação contra pólio? Não é permitido, apenas o poder do estado tem permissão para vacinar em campanhas”.  Prosseguindo o raciocínio, pergunta: “se temos este cuidados com as pessoas, qual a justificativa para não termos com os animais?”, questiona Ungar.

Descarte

Outro ponto problemático das “campanhas de vacinação” é  o descarte do material usado. Primeiro, porque não se sabe se os descartáveis foram realmente usados em um só animal e, depois, porque muitas pessoas não seguem os protocolos previstos na legislação.  Ungar ainda lembra que as clínicas veterinárias seguem a  Resolução CFMV 1015/2012  na hora do descarte. Fotos exibidas em redes sociais,  mostram seringas e agulhas em caixas coletoras que receberam também sobras de comida, em campanhas de vacinação.

Vacinar  x Imunizar

Com larga experiência contra a  febre aftosa,  o médico veterinário Antonio Valentim, conselheiro do CRMV/BA e funcionário da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB),  explica que nem sempre vacinar é igual a imunizar.  Para o  médico veterinário, são muitas as variáveis em uma ação de vacinação que podem comprometer os resultados.

Ungar concorda com o colega e explica que vacinar  é o ato de aplicar a vacina no animal e imunizar é obter uma resposta imune para a vacina aplicada. Ele lista as condições para que a  vacinação obtenha imunização, dizendo que é necessário que:

 Preocupado com a saúde e o bem estar dos animais,  Valentim comenta sobre os “mutirões de vacinação” feitos no meio da rua, destacando que o local barulhento, a falta de assepsia e a ausência de conhecimento  dos  participantes que ficam encarregados de aplicar a medicação “pode resultar em prejuízo para a saúde do animal”.   Valentim alerta ainda que,  nessas condições, a falta de higiene pode até mesmo inocular no animal bactérias que estavam na pele dele,  além de submeter o animal a stress desnecessário.

 Acondicionamento

 Trabalhando em laboratório, Ungar, se preocupa muito com a qualidade do acondicionamento  das vacinas.  Muitas vezes, este material fica exposto ao calor, debaixo do sol por horas e compromete  sua eficácia, explica.  

O Chefe do setor de vigilância contra a raiva no município de Salvador, o médico veterinário Aroldo Carneiro, lembra que, via de regra, as vacinas  precisam de dois a oito graus de refrigeração para garantir o resultado.

No geral, explica o MV Everton Rusciolleli, as vacinas  usadas pelas prefeituras são adquiridas pelo Ministério da Saúde. Ele diz que elas  são de boa qualidade, tendo resultado de até 95% de imunização, mas isso se for sob  a supervisão de alguém capacitado para avaliar não apenas as doses da vacina, mas o estado geral do animal.

Benefícios da vacinação correta

E quando o tutor, mesmo levando ao médico veterinário, reluta em vacinar o animal?

o médico veterinário Aroldo Carneiro,  é taxativo:  “As vacinas são avanços na biomedicina.  É um avanço quando se descobre um imunobiológico eficaz que protege contra determinado patógeno.”  Ele ainda acrescenta: “precisamos fazer uso desta tecnologia para prevenir doenças”.

(Foto: Álbum pessoal)

Vacinar os animais, explica Carneiro, “é proteger as pessoas em casos de zoonoses como a Raiva”. “Este é o motivo”, informa, “do SUS adquirir vacina contra a raiva canina e felina, pois, isso também protege contra a Raiva Humana”. Zoonoses são aquelas doenças que podem passar do animal para os seres humanos.

O Chefe do setor de vigilância contra a raiva no município de Salvador lembra que no caso específico da antirrábica, o  número de reações adversas é muito reduzido, ocorrendo em pouquíssimos casos, o que caracteriza a raridade deste tipo de ocorrência. E caso ocorra, o médico veterinário responsável vai saber como agir para cuidar de uma reação pós-vacinal.

Na maioria absoluta das vezes, diz Carneiro,  o  benefício (da vacinação ) é extremante superior a qualquer risco que ela possa trazer.

Ascom CRMV/BA, 22 de agosto de 2018

 

 

2 thoughts on “Profissionais alertam sobre os perigos  de ações de  vacinação feitas sem supervisão de médicos veterinários

  1. Olá! Eu levava minha cadela em uma petshop para banho. O proprietário insistiu que eu a vacinasse com a Leishtec. Fez o exame e só me falou o resultado. Ele conversava e agia como um veterinário. Na última vacina, eu pedi que me entregasse o protocolo de vacinação. Para minha surpresa, o carimbo e a assinatura era de outra pessoa. Eu o questionei, fiquei assustada por descobrir que ele não era veterinário. Me disse que era auxiliar de veterinário e que tinha autorização do veterinário para aplicar vacinas. Quando cheguei em casa, minha cadela teve uma reação e sua cara inchou demais. Eu liguei para ele e ele veio até na minha casa, deu 2 comprimidos à ela e disse que não precisava ir à uma clínica veterinária. Mas eu a levei, pois ela estava muito inchada e batendo a cabeça no chão. Ele pode fazer isso? Ele podia ter aplicado a vacina? Podia ter dado à ela 2 comprimidos? Além disso, conversei com outros clientes e me disseram que ele vive sugerindo remédios e cirurgias para os cães. Isto não é exercício ilegal da profissão? Por gentileza, aguardo um retorno para que eu possa tomar providências. Obrigada!

  2. Olá! Eu levava minha cadela em uma petshop para banho. O proprietário insistiu que eu a vacinasse com a Leishtec. Fez o exame e só me falou o resultado. Ele conversava e agia como um veterinário. Na última vacina, eu pedi que me entregasse o protocolo de vacinação. Para minha surpresa, o carimbo e a assinatura era de outra pessoa. Eu o questionei, fiquei assustada por descobrir que ele não era veterinário. Me disse que era auxiliar de veterinário e que tinha autorização do veterinário para aplicar vacinas. Quando cheguei em casa, minha cadela teve uma reação e sua cara inchou demais. Eu liguei para ele e ele veio até na minha casa, deu 2 comprimidos à ela e disse que não precisava ir à uma clínica veterinária. Mas eu a levei, pois ela estava muito inchada e batendo a cabeça no chão. Ele pode fazer isso? Ele podia ter aplicado a vacina? Podia ter dado à ela 2 comprimidos? Além disso, conversei com outros clientes e me disseram que ele vive sugerindo remédios e cirurgias para os cães. Isto não é exercício ilegal da profissão? Por gentileza, aguardo um retorno para que eu possa tomar providências. Obrigada!

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