O jornal Correio publicou, nesta segunda-feira (15), artigo da médica-veterinária Líva Peralva com o título “Reflexões necessárias para o bem-estar animal”.

No texto, a partir de uma contextualização histórica, é feita uma análise da situação de possíveis maus tratos dos animais. É um convite ao debate e a reflexão!

A seguir, você pode conferir o texto na íntegra.

Morte de cavalo abre debate sobre as escolhas da sociedade

Lívia Maia Passos Peralva*

 

Desde os primeiros assentamentos, os homens usam o trabalho dos animais em diversas civilizações na África, Europa e Ásia. Nas Américas, os povos originários vieram a conhecer os animais de montaria após a chegada dos europeus. Culturas pré-colombianas usavam apenas animais de tração, caso de lhamas e alpacas nos Andes.

Lobos, cabras, ovelhas estão entre os primeiros animais de produção domesticados e esse relacionamento tem passado pela exploração, por crueldade humana ou ainda pela convivência pacífica em situações igualmente variadas: alimentação humana, tração, recreação ou atividades esportivas.

Não nos cabe condenar o uso de animais para o ganho de vida em situações nas quais as pessoas não possuem outro meio de subsistência, porém devemos lembrar que os animais não humanos também são seres sencientes e que maus-tratos é crime previsto na legislação.

Por ser questionável o uso de animais em situações recreacionais, isso tem sido cada vez mais percebido por setores da sociedade, inclusive da nossa justiça. Em Salvador, desde 2011, está proibido o uso de jegues na tradicional Lavagem do Bonfim e os fiéis compreenderam que “quem tem fé vai a pé”. Desumano submeter os animais ao barulho intenso, ao empurra-empurra e ao peso das carroças. Decisões semelhantes foram tomadas em Tiradentes (MG), Poço de Caldas (MG) e na Vila de Jericoacoara (CE). Porém, recentemente, um cavalo caiu exausto nas ruas de Teixeira de Freitas, após puxar uma carroça.

Em Morro de São Paulo, a prefeitura suspendeu a utilização de cavalos para passeios de charretes após a morte de um animal. Cabe à sociedade questionar se vale a pena, se é moral e/ou decente usar um animal em atividades recreativas, até que ele morra de cansaço, pois agressão sabemos que é.

Nos preocupa as políticas públicas em alguns municípios baianos. Em maio de 2023, tivemos, por exemplo, o equivocado decreto da prefeitura de Cravolândia prevendo captura e sacrifício de animais, que felizmente foi revogado. Em dezembro foi a vez do município de Abaré aparecer em rede nacional maltratando cachorros. Medidas gerais de emprego, renda, de educação e de esclarecimento podem ter efeito positivo até mesmo no trato com os animais.

Há muito para ser feito. Como médicos-veterinários e zootecnistas podemos contribuir com este diálogo, usando conhecimentos sobre o bem-estar animal, Medicina Veterinária Legal, legislação aplicada a situações semelhantes e sugerindo alternativas, medidas sustentáveis para a nossa espécie e todas as demais que habitam o planeta.

 

*Lívia Peralva é médica-veterinária e presidente da Comissão Estadual de Medicina Veterinária Legal do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado da Bahia (CRMV/BA).

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