Membro da Comissão Regional de Animais Selvagens e Meio Ambiente (CRASMA), do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado da Bahia, o médico-veterinário Paulo Baiano é um estudioso da medicina de animais selvagens, especialmente a herpetologia. Além disso, é um homem de porte imponente e simpatia que puxa as pessoas para sua companhia.

Baiano de nome e de nascimento, esse itabunense foi criado em Ilhéus, sul do estado. Conta que desde cedo “tinha afinidade com ciências relacionadas à vida”. Na adolescência, anos 2000, prestou vestibular para Nutrição, Biologia e Medicina Veterinária. Conta que não confiava que iria ser aprovado, pois não se considerava um estudante de boas notas.

Passou na primeira fase da Universidade Federal da Bahia (UFBA) para Medicina Veterinária ficando na 53º posição em 110 vagas, se considerou aprovado e parou de estudar. No entanto, não foi aprovado na segunda etapa. Isso serviu para clarear sua vocação e no ano seguinte, focado nos objetivos acadêmicos, se inscreveu apenas em Medicina Veterinária da UFBA, conseguindo ingressar no curso desejado.


Entrando na faculdade, além do mundo de conhecimentos em anatomia, virologia e outros campos científicos, Paulo se dedicou a outra vocação: estar com gente. Logo no primeiro semestre entrou para o Centro Acadêmico Fúlvio Alice, o Cafa.

Enquanto fazia política estudantil, ele se candidatava e era aceito em estágios acadêmicos. Passou pelo Instituto Mamíferos Aquáticos (IMA) nos anos 2005-2006, Laboratório de Infectologia Veterinária (LIVE) da UFBA entre 2006-2007 e pelo Zoológico de Salvador 2007-2008. Isso sem descuidar das questões sociais, humanas, “holísticas” – como gosta de dizer – sendo a Medicina da Conservação para uma saúde ecológica o seu norte.

Após a graduação, fez mestrado, trabalhou no resgate de fauna, voltou para trabalhar no Zoológico pela terceira vez e, hoje, entre outras atividades, é professor de um curso de pós-graduação na Universidade Católica do Salvador e gestor no Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) do Estado.

Atualmente, no estado, seu nome é imediatamente associado ao estudo e tratamento de répteis e anfíbios, tendo vivência em clínica e manejo de répteis. Isso não significa que outros campos não lhe interessem: “gosto de ‘quebrar a cabeça’ e ir atrás do que desafia. Sou um curioso, tenho uma mente investigativa”, define.

Em sua caminhada no campo das questões sociais, Paulo Baiano se deparou com o Afrovet e hoje faz parte do grupo. Ele denuncia a “diferença de tratamento da pessoa preta e da pessoa que não é preta”. Sobre a época de graduação ele relata que “dentro da escola eu não senti na pele, mas sei que outras pessoas podem ter experiências negativas […] eu construí um campo de força e pode ter ocorrido e eu não notei, não me atingiu. Mas, realmente a gente não via a figura do preto na faculdade, principalmente em cargos de liderança”, rememora.

Hoje, ele sendo um modelo para os mais jovens de profissional bem sucedido, dá conselhos: “trabalhe, estude e viva. O conhecimento nesses três pilares é a verdadeira liberdade”. E acrescenta: “muitas vezes a gente só pensa em estudar e trabalhar… Se descuida como ser humano. Mas nossas viagens, lazer e outros momentos são imprescindíveis para nossa saúde mental e verdadeira liberdade, né?!”

Atento ao mundo que o cerca, analisa como o racismo pode estar presente contando algo que aconteceu com ele, que tem presença na mídia: “uma baiana de acarajé, também preta, que era eu freguês, me viu na televisão e disse que eu não parecia com médico-veterinário, não tinha cara”. Ele hesita em classificar a situação como um caso de racismo, mas elabora: “nunca saberemos se a baiana falaria isso também com uma pessoa branca, com dread e tatuada”.

Para ele, isso reflete que a necessidade de maior representatividade e não só, mas também de protagonismo de outras etnias.

“Lembro que era difícil até mesmo alguém falar que preto era bonito, porque não era do padrão europeu, da televisão”.

Com formação acadêmica sólida, determinação e simpatia, esse baiano parece capaz de alcançar todas as metas as quais se propõe.

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